Anteriormente, referi-me aos bloqueadores da resiliência. A continuação que hoje vos proponho refere-se ao trabalho que podemos desenvolver sobre nós próprios para trabalhar os comportamentos positivos que facilitam a superação das dificuldades.
Mudança é a palavra-chave! O que podemos mudar sozinhos, sem depender de outros. Acreditamos que é apelativo e pode ser encarado como um estímulo desafiador: podemos mudar os nossos pensamentos!
Temos uma profunda capacidade de nos renovarmos e renascer.
O nosso pensamento é o primeiro e último reduto da liberdade individual. Viktor Frankl dizia “No campo de concentração todas as circunstâncias conspiram para fazer o prisioneiro perder o seu controlo. Todos os objetivos comuns da vida estão desfeitos. A única coisa que sobrou é "a última liberdade humana" - a capacidade de escolher a atitude pessoal que se assume diante de determinado conjunto de circunstâncias”[1]
Mudar a forma de pensar sobre um determinado conjunto de acontecimentos e situações pode converter alguns dos efeitos negativos das causas externas que terão existido nesses acontecimentos. Ao mudar os paradigmas, sobretudo relativamente ao que provoca desconforto e dificuldade em agir de forma positiva e construtiva, a pessoa também se torna mais forte, pela aprendizagem e pelos estímulos de descoberta que tem à sua frente.
Manifestações de Resiliência
A resiliência é uma competência que se manifesta quando os acontecimentos lhe provocam subida da adrenalina, quando as circunstâncias são inesperadas, quando os acontecimentos ultrapassam a perceção pessoal de controlo. A pessoa resiliente encontra a determinação, a persistência e os recursos necessários para lidar com a situação e aprender com a experiência.
Características das pessoas resilientes
James Neill, psicólogo e investigador[2], publicou em 2006[3] as características das pessoas resilientes:
- Têm capacidade para superar e recuperar dos mais variados acontecimentos;
- Adotam uma atitude positiva e determinada - “onde existe vontade, existem caminhos”;
- Encaram os problemas como oportunidades;
- Identificam janelas de oportunidade e rentabilizam-nas ao máximo;
- Demonstram uma capacidade diferenciadora das pessoas menos resilientes para suportar situações difíceis;
- As suas crenças estão alicerçadas num sistema de sentidos e significados;
- Cultivam uma network social saudável;
- Mobilizam os recursos necessários para lidar com a maior parte das situações de forma competente;
- Têm uma zona de conforto alargada – o que lhes confere uma elevada capacidade de mobilização e utilização flexível de recursos;
- Recuperam de experiências difíceis, traumáticas ou fóbicas, de forma mais rápida.
“As pessoas resilientes têm nas suas vidas relações afetivas gratificantes, têm sucesso profissional, ocupam o seu tempo de forma agradável, cuidam bem de si próprias e acreditam num futuro promissor para as suas vidas.”[4]
Muitas pessoas são resilientes; as suas vidas são caracterizadas por ações, experiências e acontecimentos que, no seu conjunto, representam a capacidade para superar o que outros podem sentir como desastres e catástrofes; utilizam essas experiências para aprender e ir mais longe na vida.
Exemplos de pessoas resilientes
Os exemplos de pessoas resilientes que pode ler a seguir, são dados por James Neill; acrescentámos 2 exemplos portugueses.
- Anne Frank. Menina judia que, durante a Segunda Guerra Mundial, viveu escondida durante cerca de 2 anos para escapar aos nazis; o pai de Anne, Otto Frank, publicou o diário que Anne escreveu durante esse período - “O Diário de Anne Frank”. Morreu no campo de concentração de Bergen-Belsen.
- Helen Keller. (1880 -1968). Cega e surda desde a infância, foi escritora/autora de vários livros baseados na sua experiência pessoal e profissional; ativista política e professora, recebeu a aclamação da crítica pelas realizações ao longo da sua carreira.
- Nelson Mandela. Entre 1962 e 1990 viveu como prisioneiro vítima do apartheid na África do Sul; entre 1994 e 1999 foi Presidente desse mesmo País.
- Nelson Évora[5]. Inicialmente de nacionalidade cabo-verdiana, opta por se naturalizar português. Começou a sua carreira de atleta aos 10 anos; saltou 1,64m em altura, quando ele próprio media pouco mais de 1,40m. Aos 15 anos, uma grave lesão num joelho leva-o a mudar para o salto em comprimento. Nos Mundiais de Osaka sagrou-se campeão do Mundo de triplo salto (17,74m - segunda melhor marca mundial do ano e recorde nacional). Com 25 anos de idade atingiu os títulos mais importantes que um atleta pode conseguir na sua carreira”.
- Cristiano Ronaldo[6]. Começou a jogar futebol no CF Andorinha, na Madeira. Com 10 anos de idade, foi contratado pelo Nacional. Aos 11 anos foi para Lisboa, para as categorias de base do Sporting Club de Portugal, onde jogou no Sub 16, Sub 17 e no Sub 18. Joga no Real Madrid e na Seleção Portuguesa. Foi eleito o melhor jogador de futebol do mundo, em 2013 e 2014. Recebeu vários prémios e condecorações, é considerado símbolo sexual, foi capa de revistas de grande circulação no mundo e é modelo publicitário da Armani e da Nike, dentre outras marcas.
E para o leitor, quais são os seus exemplos de pessoas resilientes?
Gostaríamos que os partilhasse connosco!
[1] Em Busca de Sentido - Um Psicólogo no Campo de Concentração, Viktor E. Frankl, ed. Norte Americana de 1984
[2] Centre for Applied Psychology, University of Canberra, Australia
[3] http://www.wilderdom.com/psychology/resilience/PsychologicalResilience.html
[4] Retirado de “Resiliência para Principiantes”, Ed. Sílabo
[5] http://www.nelson-evora.com/bio.php
[6] http://www.e-biografias.net/cristiano_ronaldo/
