O papel dos fatores de proteção no desenvolvimento da resiliência
O papel dos fatores de proteção no desenvolvimento da resiliência
As condições que ajudam as pessoas a lidarem positivamente com os problemas e as situações, sem se deixarem abater pelos seus efeitos, são designadas de fatores de proteção.
Funções dos fatores de proteção
Segundo M. Rutter[1], os fatores de proteção cumprem 4 funções principais:
- Reduzir os impactos dos riscos, alterando a exposição da pessoa à situação adversa;
- Reduzir as reações negativas em cadeia que se seguem à exposição do indivíduo à situação de risco;
- Estabelecer e manter a autoestima e autoeficácia, através do estabelecimento de relações de apego seguras e o cumprimento de tarefas com sucesso;
- Criar oportunidades para transformar os efeitos do stresse.
Fatores de proteção transversais e multiculturais
Tendo em conta que podem variar de acordo com aspetos culturais e etários, apresentamos a seguir 4 fatores de proteção transversais e multiculturais:
1. Desenvolver relacionamentos interpessoais onde exista afeto e apoio
As pessoas que desenvolvem a sua área sócio emocional conseguem, mais facilmente, obter ajuda nos momentos difíceis.
Quando a vida parece desmoronar-se é importante ter bons amigos com quem contar.
Para ter amigos é necessário ser-se amigo. Ter pessoas capazes de escutar sem julgar, pessoas das quais sabemos “que estão lá!”
Para cultivar esta disponibilidade e confiança, é fundamental cuidar de si próprio. Aumentar a autoestima, valorizar-se física e intelectualmente, quer a nível pessoal, quer profissional. Aprender a gostar de si próprio, aumenta a predisposição para ter melhor humor, sentir-se mais animado, mostrar um sorriso e estar disponível para dar, sem pedir ou esperar algo em troca.
Quanto mais uma pessoa dá de si própria aos outros, sentindo essa vontade e prazer, mais recebe em troca. As relações interpessoais tornam-se dominantemente caracterizadas pelo respeito mútuo, a autonomia pessoal e a partilha.
Ao invés, as pessoas que alimentam relações onde imperam as agressões verbais, as zangas, as críticas destrutivas, a desonestidade e a prepotência, geram tensões, conflitos, desconfiança e afastamento (por vezes irrecuperável).
2. Resolver problemas e fixar objetivos
As pesquisas demonstram que um dos fatores que diferenciam as pessoas resilientes das menos resilientes é a capacidade para resolver problemas e definir objetivos.
Face a obstáculos, as pessoas mais resilientes acreditam em si próprias e têm uma atitude positiva que as torna capazes de continuar a atingir objetivos e obter sucessos.
No entanto, também é um fator importante de resiliência ser capaz de “pedir ajuda”; não como sinónimo de dependência ou ignorância, mas como um meio que ajuda a aumentar a capacidade individual de lidar com desafios importantes da vida.
As pessoas resilientes rodeiam-se de outros que as ajudam a colocar os problemas em perspetiva, compreendendo as suas preocupações e convicções; pessoas que as escutam, valorizam e respeitam as suas opiniões, sonhos e ideias inspiradas (ou inspiradoras!).
3. Participar ativamente
As pesquisas são conclusivas quanto ao facto de as pessoas resilientes se dedicarem a hobbies ou terem ocupações que lhes proporcionam prazer, nomeadamente, a prática de um desporto, cantar ou tocar um instrumento musical, pintar, ler ou escrever.
Um dos benefícios advém de estas práticas ajudarem a esquecer, de uma forma saudável, os problemas e o stresse, fazendo com que se sinta útil. Por exemplo, envolver-se num projeto com o qual se identifique e onde possa sentir-se valorizado e apreciado (numa organização ou na comunidade).
Praticar voluntariado, contribuir para uma causa, permite relativizar os problemas, reforça laços socio-afetivos, é excelente para conhecer outras pessoas e desenvolver novas áreas de interesse.
Frequentemente a vida pode ser difícil. No entanto é possível controlar as respostas às dificuldades, criando antecipadamente fatores de proteção para se tornar mais resiliente face às adversidades – este é o lado positivo da vida que pode ser realçado pelas experiências de cada um.
4. Aprender continuadamente
Algumas pessoas pensam que “estudar é nos tempos de escola!” No entanto, estudar, aprender algo novo, ler, viajar, conversar com pessoas de outras culturas, ajuda a progredir na vida, a aumentar a sua maturidade e estar mais capacitado para enfrentar situações novas com sucesso.
Neste âmbito, as “ferramentas de desenvolvimento pessoal” inserem-se entre as mais importantes. É possível aprender a definir claramente expectativas, a focalizar-se em prioridades, a dizer “não”, a gerar alternativas, a gerir conflitos, a liderar…
[1]Sir Michael Rutter é reconhecido internacionalmente na sua investigação dos fatores biológicos e psicológicos que influenciam a saúde mental de crianças e adolescentes.