Potenciar a aprendizagem através da IA
A Inteligência Artificial (IA) há muito que deixou o campo da ficção científica, fazendo parte no nosso dia a dia sob a forma de chatbots, robôs, objetos conectados entre si, smart speakers, assistentes inteligentes, algoritmos de redes sociais e muito mais. E tal como assistimos à expansão da Internet nos anos 2000, na década de 2020 poderemos assistir ao crescimento de uma forma acessível de IA que nos ajudará a aprender e a desenvolver competências.
De facto, este conjunto de programas de computador a que chamamos IA e que podem simular faculdades humanas (reconhecimento facial e de imagem, tradução automática), gerir o diálogo entre homem e máquina ou processar enormes quantidades de dados para orientar a tomada de decisões já se encontra em fase de aplicação na área de L&D. Para já, apenas ao nível de IA fraca – tarefas simples, repetitivas e/ou automatizadas (por oposição à IA forte, capaz de compreender contextos, resolver problemas e desenvolver o seu próprio raciocínio).
Conheça o Albert, o primeiro tutor digital da CEGOS
Desenvolvido pela equipa de inovação do Grupo CEGOS, o Albert ajuda os colaboradores a enfrentarem os desafios operacionais do seu contexto de trabalho – faz perguntas e dá conselhos importantes para ajudá-los a alcançar objetivos. O Albert ainda é só um protótipo disponível em língua francesa e dotado de IA fraca, mas o objetivo é que a partir das interações que estabelece com as diferentes pessoas se torne cada vez mais inteligente.
De acordo com o “HCM Technology Study”, realizado pelo Brandon Hall Group, 18% das empresas dedicadas à formação em todo o mundo já começaram a automatizar o desenvolvimento dos seus percursos de aprendizagem. Isto verifica-se, por exemplo, através do crescimento de “learning companions” – assistentes inteligentes que prestam apoio na curadoria e selecão de conteúdos relevantes para cada formando; na coordenação de oportunidades de formação e trabalho ajustadas a cada perfil; na recolha e partilha de indicadores de competências e acreditações; no acompanhamento personalizado e interações com especialistas; e no apoio e feedback através de recursos interativos (processamento de linguagem natural, chatbots) para acompanhar o progresso e motivar o formando ao longo da sua jornada de aprendizagem.
No futuro, a IA forte estará presente em cada fase do processo de aprendizagem. Imagine um “learning companion” que conhece as suas preferências a partir de informações que recolhe nas redes sociais, faz perguntas, disponibiliza conteúdo de aprendizagem válido e confiável, ajusta as condições de aprendizagem de acordo com diferentes horas do dia (cronobiologia), alerta o formador, sugerindo mudanças de ritmo sempre que apresentar sinais de cansaço e ainda dá feedback positivo ou construtivo para o manter motivado a longo prazo. Incrível, não acha?
Ainda assim, continua a ser crucial compreender devidamente a realidade abrangida pela IA. É importante definir um enquadramento ético que sirva tanto os interesses dos colaboradores que precisam desenvolver as suas competências como os das organizações onde estes trabalham, encontrando o equilíbrio certo entre as promessas de um mundo melhor (com mais personalização, maior eficácia, redução de tarefas repetitivas) e os muitos receios que a IA provoca (alteração do papel do formador, controlo de dados).
Cabe-nos, portanto, ajudar a desmistificar ideias como a de que a IA vai acabar simplesmente por substituir os formadores – quando o propósito é melhorar o apoio prestado e ajudá-los a focarem-se na realização de tarefas mais complexas e criativas. Mais do que uma rivalidade, trata-se de uma verdadeira simbiose entre humanos e máquinas e de combinar as suas diferentes capacidades e competências, como lembra Garry Kasparov no livro cujo título encerra talvez a chave para compreendermos melhor o futuro que nos espera: “Don’t fear Intelligent Machines. Work with Them”.
*Este artigo foi publicado originalmente na RH Magazine.