Linguagem corporal: como avaliar a confiança
A grande maioria da nossa vida biológica não é consciente. A neurocientista Renata Coura, num estudo recente, sugere que entre 96% a 98% das ações diárias são inconscientes. A ligação cérebro-corpo faz com que linguagem corporal expresse os nossos estados de ânimo sem nos darmos conta, estamos constantemente a transmitir ao mundo que nos rodeia como nos sentimos, pensamos e relacionamos.
Pessoalmente, as quase duas décadas de estudo da condição e comunicação humana fazem-me olhar para a confiança como a moeda social da natureza. Ou seja, quem tem mais, tem mais créditos no grupo, na sociedade.
A confiança, longe de ser sinónimo de eficiência, tem a vantagem de sinalizar ausência de medo, e isso, em termos evolutivos, é muito interessante, afinal aquilo que move o nosso cérebro reptiliano, o que herdámos dos répteis, é o medo; medo a tudo o que possa ser uma ameaça à preservação da vida, dos genes, da reprodução, da nossa imagem.
Quem tem mais confiança tem mais créditos no grupo e na sociedade
Não é, pois, surpreendente que pessoas mais confiantes vendam mais, tenham mais sucesso nas conquistas amorosas, sejam mais carismáticos nas relações sociais.
Do ponto de vista da Sinergologia, a confiança do indivíduo é analisada sob o conceito de Expego. Expego é uma aglutinação das palavras Expansão e Ego. Quanto maior a expansão do ego – o Expego – maior o nível de confiança do indivíduo ou até mesmo do animal, porque partilhamos muitos dos códigos da linguagem corporal com os animais mais próximos geneticamente.
A regra geral é que quanto maior a área que o corpo ocupa no espaço, maior o expego. A distância a que as pernas estão afastadas, os braços, a posição do corpo. E a inversa é verdadeira, quanto menor a área que o corpo ocupa no espaço, menor o nível de confiança.
Imagine alguém em palco, com os pés juntos, pernas juntas, os braços colados lateralmente ao corpo e os ombros e o tronco encolhido, como que a querer desaparecer. Esta seria a imagem de uma pessoa com um nível muito baixo de confiança. Para um exemplo em vídeo, veja a audição de Alice Fredenham no concurso British Got Talent, com o tema “My Funny Valentine”.
Observe como a confiança não está ligada à qualidade enquanto cantora, que neste tema interpretou notavelmente uma das variações mais sensuais desta música.
Não obstante, grandes egos, que irradiam confiança em si, como o nosso ídolo de futebol, Cristiano Ronaldo, ou o cantor Freddie Mercury, têm neste aspeto uma linguagem corporal muito diferente da generalidade das pessoas. Essa grande confiança em si contribuiu muito provavelmente para superar os obstáculos no trajeto que os levou a tornarem-se dos melhores das suas áreas.
Quanto maior a área que o corpo ocupa no espaço, maior a confiança
É importante perceber que, como em tudo na vida, há o reverso da medalha. Um ego muito expandido pode ajudar-nos a melhor suportar os obstáculos com que nos deparamos; mas poderá também contribuir para termos mais dificuldade em ver os outros pelos seus olhos, ou, por outras palavras, a gerar menos empatia ou a estar menos recetivos aos outros.
Cada caso é um caso
Em Sinergologia chamamos de pronador ao indivíduo cujo nível de confiança é tão grande, que ele sente que não precisa dos outros para atingir os seus propósitos, e assim está muito menos recetivo, mas ao mesmo tempo também mais seletivo.
Um pronador, para além de um grande Expego, tem uma rotação das articulações para dentro, nomeadamente nos pulsos. Os movimentos dos pulsos são, como quase toda a linguagem corporal, fruto das experiências nos primeiros anos de vida.
O recém-nascido tem naturalmente as palmas das mãos voltadas para dentro, para si. É no momento que ele toca os pais, rodando o pulso, que perceciona o conceito de existência do outro. E dessa forma, em adulto, é diferente quando se expressa com as palmas das mãos para dentro ou para fora, sinalizando se estou em conexão comigo, como quando era criança, ou se a comunicação prevê a existência do outro, sinalizando essa divisão entre eu e o interlocutor.
Outro aspeto quase inconsciente relacionado com o espaço e a confiança é o facto de num grupo os vários elementos darem mais espaço ao líder, o que permite e fomenta a liderança. Isso é facilmente observado em fotografias e vídeos de empresas ou de organizações, em que o líder ou líderes terão mais espaço à sua volta, dado inconscientemente pelos vários elementos, desde que estes respeitem essa liderança.
Outra nota também muito interessante é a relação que a linguagem corporal pode ter no aumento da confiança, pelo estímulo ao aumento do nível de testosterona e pela descida do cortisol, conseguidos quando voluntariamente adotamos uma posição dominante.
*Este artigo foi publicado originalmente no Empreendedor.com.
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