O interesse prático da Assertividade
No texto anterior, apresentei a Assertividade como competência essencial, o caráter estruturante da competência e de como uma competência condiciona o desenvolvimento de outras competências.
Como já nomeei, a autoestima e a autoconfiança constituem-se como desdobramentos do autoconceito que, por sua vez, constitui a base da capacidade de afirmação pessoal. Importa agora perceber a relação entre estes conceitos...e, acima de tudo, não perder de vista o interese prático da Assertividade.
Autoestima, autoconceito e perceção de autoeficácia
A autoestima corresponde a um conjunto de ideias e de emoções que a pessoa experimenta em relação a si própria: é, digamos assim, o autoconceito valorizado. Este autoconceito, que não é mais do que “um exercício contínuo de atribuição de sentido” (Karp, 2002) que um indivíduo faz em relação a si próprio, resulta das interacções que construímos ao longo da nossa história de vida e constitui, por sua vez, uma espécie de "esteio" de comportamentos, porque é na sua base que as pessoas interpretam o mundo e (re)agem sobre ele.
Assim, o autorreconhecimento de sermos pessoas “com valor” e gostarmos de nós, constituem elementos essenciais para a nossa perceção de “auto-eficácia” que consiste na “crença de que seremos capazes de atingir aquilo que nos propusermos fazer” ( Reece & Brandt, 2002). Percebe-se, então, qual o motivo que leva as empresas a dar, hoje em dia, tanta importância à existência de um autoconceito positivo e da consequente capacidade de afirmação pessoal, quando querem selecionar um quadro ou um responsável para as suas equipas, num ambiente organizacional que gera grandes e difíceis desafios que põem à prova a capacidade de resistência ao stresse e apelam à ousadia e ao sentido de risco.
Quando se tem um autoconceito positivo e a perceção de autoeficácia é elevada, a pessoa sente-se “ganhadora” e não só está melhor apetrechada como é estimulante para si enfrentar desafios difíceis que ponham bem à prova as suas capacidades.
Quando, pelo contrário, a perceção de autoeficácia e a autoestima são baixas, as pessoas podem facilmente resvalar para comportamentos passivos, excessivamente reativos e, até, autodestrutivos. Quando tal ocorre, podem evidenciar tendências para se sentirem vítimas e serem invadidas pelo “síndroma do fracasso” (Reece & Brandt, 2002), com sentimentos e pensamentos do tipo “o mundo é um local inseguro e hostil”, onde têm a “sensação de não fazer parte do conjunto” e onde, como consequência disso, podem sentir uma “urgência em procurar o afastamento e a solidão”, em momentos difíceis onde “o próprio ato de falar faz doer” (Karp, 2002).
A apresentação que aqui se faz desta competência pode levantar, em alguns espíritos a dúvida sobre se a afirmação pessoal é uma competência que as pessoas podem desenvolver ou uma característica da personalidade que, como tal, dificilmente pode ser modificável.
Ponto de vista prático da Assertividade
Do ponto de vista prático, e o ponto de vista prático aqui é a vida quotidiana de cada pessoa e as estratégias utilizadas para a construção pessoal do “sentido de propósito”, interessa pouco saber em que medida o passado de cada um, a sua genética e os seus “fantasmas” pessoais, se encarregaram de gerar algumas “feridas” na sua autoestima.
Como refere Kierkgaard, citado por Karp (2002), “a vida só faz sentido quando se olha para trás, mas deve ser vivida olhando para a frente”.
Neste sentido, é importante acreditarmos que qualquer que tenha sido o nosso passado e por mais complexo que ele tenha sido, está sempre e ainda nas nossas mãos desenvolver as competências que sejam necessárias para vencer o passado, transformar o presente e reinventar o futuro. Acredito estar aqui, justamente a mais rica heurística e o principal interesse prático da Assertividade.
Na afirmação de que qualquer que seja a “massa” que constitui a parte submersa do nosso “iceberg”, é nas modalidades expressivas dos nossos comportamentos e na instrumentalidade das nossas ações sobre a realidade que se joga, de facto, o destino de cada um.
Se a natureza nos deu esta magnífica e renovada capacidade de nos recriarmos, não é para a enclausurarmos e a deixarmos apodrecer numa qualquer gaveta dorida da memória.
Sobretudo quando essa memória é a de coisas menos boas, de momentos difíceis de angústias e episódios dramáticos de fracasso. Porque, e ainda citando Reece & Brandt (2002), “Cair, na vida, não significa, necessariamente, fracassar. Não se voltar a levantar é que sim.”